Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

5.7.08

Grupos: factores de associação e desassociação

Para perceber a continuidade de projecto ou de grupos de teatro amador, é relevante observar como se criam e desenvolvem grupos de pessoas e a sua importância no quotidiano.

De acordo com Susana Maria de Almeida Gonçalves[1],

um grupo é um conjunto de pessoas com objectivos e características comuns que desenvolvem várias interacções de acordo com normas próprias de funcionamento e que tendem a estabelecer relações de influência recíproca e a orientar-se para uma relativa coesão (unidade) que faz com que sintam que pertencem ao grupo, mesmo quando não estão reunidos.

Das várias funções atribuídas aos grupos, salienta-se a obtenção de objectivos comuns que correspondem a três tipologias: utilitários (dinheiro, sucesso e influência), de conhecimento (informação e consenso de pontos de vista) e de identidade (comparação social auto-afirmação). Deste modo, elaborando uma analogia com um grupo de teatro amador, podemos verificar que os seus objectivos são sobretudo de conhecimento e identidade. Outra função essencial de um grupo é a da difusão de responsabilidade, desenvolvimento de sentimento de satisfação pessoal e o proporcionamento de momentos de apoio social.

Para um grupo há factores determinantes para a sua coesão ou consequente dissociação. A coesão assenta numa eficaz estruturação das relações, em que cada elemento respeita os papéis ou estatutos que lhe são atribuídos, agindo de acordo com as normas de funcionamento estabelecidas. Este não deve ser um grupo fechado, pois este tipo de grupo facilmente exclui a tomada de decisões que exijam criatividade ou a adopção de novas ideias, mesmo quando positivas para o seu desenvolvimento[2]. Estas situações podem originar a dissociação dos grupos, pois podem não acompanhar o crescimento pessoal dos indivíduos que o compõem. Ou seja, o grupo deixa de satisfazer as necessidades individuais dos seus participantes, os actos dos participantes não contribuem para alcançar os objectivos do grupo; o grupo já não consegue alcançar os objectivos que se propôs; o grupo já alcançou os objectivos que se propusera e deixa de haver razão para continuar a existir[3].

Percebendo o funcionamento de um grupo, podemos perceber o porquê as etapas de um grupo de teatro amador e a sua continuidade no tempo ou não. Na maioria das vezes, a participação neste tipo de grupo serve o objectivo concreto de realizar uma nova experiência que uma vez atingida deixa de justificar a sua continuidade.

Para quem deseja encetar por uma vida profissional, o trajecto amador também acaba por ser temporária, pois estes praticantes acabam por investir quer na formação e na consequente experiência profissional. Assim, é mais fácil manter-se nesta actividade quem tem por objectivo apenas o usufruto da mesma.

O teatro amador tem, ainda, outras dificuldades que o teatro profissional não tem e que se prende com o facto dos seus actores terem outra profissão, terem a sua vida e o teatro aparece como hobby, que se torna cada vez mais difícil quando as pessoas têm horários de trabalho diferentes e isso dificulta a marcação de ensaios[4].

Outro factor que dificulta a continuidade de um grupo tem a ver com a cada vez maior necessidade de organização por parte dos grupos se estes desejarem participar em eventos como festivais ou mostras, que têm requisitos específicos. E este ensejo de participação é uma fase natural nos grupos. Para participação em certos eventos é necessário ter uma estrutura oficialmente reconhecida, pois a participação implica a obtenção de subsídios e/ou compensações de apresentação. Com a legislação nacional cada vez mais apertada no que se refere a gastos institucionais, acaba por resultar num impedimento. Porque o tempo que é necessário investir em burocracias, não é muitas vezes compensatório.



[1] Formação e funcionamento dos grupos: elementos introdutórios. Texto de apoio elaborado para a disciplina de Psicologia do Ensino e da Aprendizagem da Escola Superior de Educação de Coimbra. In http://esec.pt/~susana/Publicacoes_files/susana_PDF/psisoceduc.pdf (consultado a 05/06/2008).

[2] Idem, pag. 7.

[3] Idem, pag. 8.

[4] Revista Figura Online. Artigo relativo à realização da 3ª edição do Teatrartes 2007, organizado pelo TIL – Teatro Independente de Loures. in http://www.figura.pt/index.php?option=displaypage&Itemid=485&op=page&SubMenu= (consultado a 11/04/2008).

Sem comentários:

Enviar um comentário