Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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15.5.08

Vieira da Silva – Par elle Même

Não sei se aprecio a pintura de Vieira da Silva. Alguns dos seus quadros transmitem-me uma sensação lúgubre e outros de peso. São construções pesadas, como frequentemente são as bibliotecas que neles parecem emergir. Ou as cidades de betão pintado e sem plano de pormenor, ou de pormenores perdidos. Sinto falta da cor viva que me alegra a alma. É que a minha lama anda triste e talvez não haja agora nela espaço para tais traços, para tais perspectivas, tais pontos de fuga. Talvez não haja fuga possível!

Par Elle Même vislumbra a pessoas por trás dos quadros, por trás do ícone. É ter uma vontade imensa de pôr a chaleira a ferver e preparar um chá. Pôr o disco na vitrola e sentar num cadeirão largo com uma manta quente a proteger do frio. Sentar e saborear o silêncio da descoberta de um traço que procura o seu caminho numa tela. Perceber como por vezes se encontram, se cruzam e de repente ver que apenas estavam à espera de se cruzar e trazer à superfície da tela algo que estava lá há já muito, muito tempo. Apenas à espera que uma mão sacudisse a areia branca da tela. E tudo isto num simples golo de chá.

Dar vida a palavras que não são escritas para representação não é tarefa fácil. Há ritmos escritos difíceis de conciliar com a oralidade. São outros tempos, outras pausas, outra respiração. É necessário um empenho total nas palavras. Uma maior garimpagem de tonalidades. E Maria José Paschoal brinda-nos … com a sua versatilidade e as suas capacidades interpretativas. Como a própria afirma: é o papel de uma vida. Ou melhor, é uma vida que vai além do papel em que as palavras foram escritas.

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